sexta-feira, 24 de abril de 2009

Samir tem sido assolado ultimamente por um sopro de falta de fé que o fez partir em uma busca. Ele resolveu buscar Deus. Samir sabe que, se ele existir, está em todo lugar, mas quer buscá-lo em um lugar onde o possa ver. Tantas vezes Samir pediu a ele um sinal de sua existência, um indício de que não estava sozinho, de que suas orações não eram desperdiçadas ao vento. Nunca recebeu uma resposta. Por quê? Porque não há ninguém para responder ou porque ele não precisa provar sua existência?
À noite o medo da morte sempre é maior em Samir. Ele tem um medo muito grande de não haver nada depois da morte, de não haver alma ou um outro mundo. Ele esteve pensando que é nisso que todas as religiões se baseiam: no medo da morte, ou antes no medo de deixarmos de existir quando nossos corpos morrerem.
Samir quer acreditar em Deus e que tem uma alma eterna. Mas não consegue acreditar totalmente sem uma prova. Se pelo menos aqueles que morreram pudessem enviar uma mensagem inequívoca...

sábado, 4 de abril de 2009

Nas adversidades você conhece o melhor ou o pior de cada um.

domingo, 22 de março de 2009

Havia um sábio que vivia com seus discípulos de maneira errante, viajando sempre, aprendendo sobre a vida, o mundo e sobre si mesmo.
Certo dia, chovia muito forte, tão forte que a estrada de terra por onde andavam transformou-se em barro. A certa altura o grupo encontrou um carro atolado. Seu motorista estava ao lado, orando humildemente para que Deus retirasse o carro do atoleiro. O mestre então ordenou que todos começassem a orar também, pedindo a Deus que aquele homem devoto fosse salvo da tempestade.
Mais a frente encontraram um outro carro, também atolado, e seu motorista estava atrás, empurrando-o com todas as forças, coberto de barro, gritando as mais grosseiras imprecações. O mestre então ordenou que todos empurrassem o carro também. Em pouco tempo o carro estava livre, e o motorista, já mais calmo, agradeceu aos ascetas e seguiu seu caminho.
À noite, já abrigados da chuva, o grupo descansava e comia. O discípulo mais antigo, sempre mais confiante do que seus colegas, achegou-se ao mestre e perguntou-lhe:
- Mestre, não entendo por que no caso do homem devoto nós apenas oramos, e já no caso do homem grosseiro, que maldizia Deus, nós ajudamos a empurrar o carro.
- Meu jovem, – respondeu o sábio – estávamos a serviço de Deus naquela estrada. Deus não faz por nós o que ele nos deu capacidade para fazer; ele nos ajuda, segundo nossos méritos, naquilo que vai além de nossas habilidades. O primeiro homem orava, e o que devíamos fazer era ajudá-lo a orar ainda mais, porque era isso o que ele queria. O segundo empurrava o carro, e nossa tarefa era ajudá-lo a empurrar, porque esse foi o caminho que ele escolheu.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Recentemente Samir esteve na Palestina visitando Al Quds, Jerusalém. Passeou longas horas por aquelas ruas antigas. Subiu o Moriah, e lá do alto, na magnífica Esplanada das Mesquitas, com a luz do sol fazendo brilhar a enorme cúpula de Omar, teve a impressão de que não estava em Jerusalém, mas num lugar fictício. As igrejas, as sinagogas, as mesquitas, tudo compunha uma única cidade. Não se falava mais árabe, hebraico, latim, grego, francês ou inglês; só havia o canto dos pássaros. E as pessoas lá embaixo, nas ruas tortas, entre o casario amarelado pelos séculos: quem distinguiria o judeu, o muçulmano, o cristão, o ateu?
Há pessoas que são tão pobres, mas tão pobres, que só têm dinheiro.

(Pedro de Lara)