quarta-feira, 4 de setembro de 2013

No sábado, então, às duas horas,
Todo o povo, sem demora,
Foi lá só pra assistir
Um homem que atirava pelas costas
E acertou o Santo Cristo
E começou a sorrir.
Sentindo o sangue na garganta,
João olhou pras bandeirinhas
E pro povo a aplaudir,
E olhou pro sorveteiro
E pras câmeras e a gente da TV que filmava tudo ali.
E se lembrou de quando era uma criança
E de tudo o que vivera até ali,
E decidiu entrar de vez naquela dança
- Se a "Via Crucis" virou circo, estou aqui.
E nisso o sol cegou seus olhos
E então Maria Lúcia ele reconheceu;
Ela trazia a Winchester 22,
A arma que seu primo Pablo lhe deu.


Acabei de perceber que, talvez, no final de "Faroeste Caboclo", o protagonista João de Santo Cristo estivesse tendo alucinações, enquanto morria. No momento em que foi acertado pelas costas, mesmo com o sol lhe cegando os olhos, ele conseguiu reconhecer sua ex-noiva, Maria Lúcia? A mesma que o tinha abandonado para ficar com seu inimigo (inclusive engravidando deste), que agora, milagrosamente, aparecia para lhe trazer a Winchester 22, dando ao protagonista a oportunidade de matar seu assassino antes que ele mesmo morresse?
Acho possível que, naquela mistura de perda de sangue, sol forte e humilhação pública, João estivesse "vendo" o que queria: seu inimigo morto, sua amada se arrependendo da traição e morrendo junto a si. Quando ele decidiu entrar de vez naquela dança, quando ele se entregou à morte, sua mente criou uma realidade mais aceitável em seus últimos segundos de vida.
Essa alucinação implícita aumenta ainda mais a carga dramática dessa canção.

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