Mar de mágoas sem marés
Onde não há sinal de qualquer porto.
De lés a lés o céu é cor de cinza
E o mundo desconforto.
No quadrante deste mar, que vai rasgando
Horizontes sempre iguais à minha frente,
Há um sonho agonizando
Lentamente, tristemente...
sexta-feira, 23 de maio de 2014
sábado, 17 de maio de 2014
sexta-feira, 16 de maio de 2014
Ela me deu o seu amor. Eu tomei.
No dia 16 de maio viajei.
Espaçonave, atropelado, procurei
O meu amor aperreado.
Apenas apanhei na beira-mar
Um táxi pra estação lunar.
Poucas pessoas podem relatar a data da própria morte. Eu sou uma delas.
Há exatos dezessete anos eu deixei minha vida, a vida que eu havia planejado por anos, a vida que eu havia perseguido com muitos sacrifícios - meus e principalmente de outras pessoas que confiaram em mim.
Saí dessa vida pela porta da frente, voluntariamente, à noite, uma noite escura como o futuro que me aguardava do outro lado.
Mergulhei no fracasso, exilei-me dos sonhos da juventude.
Fui fraco.
Apenas isso.
No dia 16 de maio viajei.
Espaçonave, atropelado, procurei
O meu amor aperreado.
Apenas apanhei na beira-mar
Um táxi pra estação lunar.
Poucas pessoas podem relatar a data da própria morte. Eu sou uma delas.
Há exatos dezessete anos eu deixei minha vida, a vida que eu havia planejado por anos, a vida que eu havia perseguido com muitos sacrifícios - meus e principalmente de outras pessoas que confiaram em mim.
Saí dessa vida pela porta da frente, voluntariamente, à noite, uma noite escura como o futuro que me aguardava do outro lado.
Mergulhei no fracasso, exilei-me dos sonhos da juventude.
Fui fraco.
Apenas isso.
terça-feira, 13 de maio de 2014
Hoje é 13 de maio, dia em que se comemora - ou se deveria comemorar - o fim da escravidão no Brasil.
Mas não se comemora porque quase ninguém se lembra desta e de outras datas cívicas.
Não se comemora porque grande parte do povo ainda se sente escravo: acorda muito cedo, dorme muito tarde, trabalha seis ou sete dias por semana, utiliza meios de transporte que aviltam aqueles que deles necessitam, alimenta-se mal e vê seu governo desperdiçando seu dinheiro de tributos.
Não se comemora porque aqueles que comandam a mentalidade da massa têm outras prioridades: Copa do Mundo, eleições, programas de rádio e televisão que jogam bobagens na cara dos ouvintes/telespectadores, etc.
Em honra da Liberdade, deixo aqui um excerto de O Navio Negreiro (Tragédia no Mar), do grande Castro Alves, que morreu moço, aos 24 anos, deixando essa e outras obras magistrais:
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!
Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!...
São os filhos do deserto,
Onde a terra esposa a luz.
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus...
São os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão.
Ontem simples, fortes, bravos.
Hoje míseros escravos,
Sem luz, sem ar, sem razão...
São mulheres desgraçadas,
Como Agar o foi também.
Que sedentas, alquebradas,
De longe... bem longe vêm...
Trazendo com tíbios passos,
Filhos e algemas nos braços,
N'alma — lágrimas e fel...
Como Agar sofrendo tanto,
Que nem o leite de pranto
Têm que dar para Ismael.
Lá nas areias infindas,
Das palmeiras no país,
Nasceram crianças lindas,
Viveram moças gentis...
Passa um dia a caravana,
Quando a virgem na cabana
Cisma da noite nos véus ...
... Adeus, ó choça do monte,
... Adeus, palmeiras da fonte!...
... Adeus, amores... adeus!...
Depois, o areal extenso...
Depois, o oceano de pó.
Depois no horizonte imenso
Desertos... desertos só...
E a fome, o cansaço, a sede...
Ai! quanto infeliz que cede,
E cai p'ra não mais s'erguer!...
Vaga um lugar na cadeia,
Mas o chacal sobre a areia
Acha um corpo que roer.
Ontem a Serra Leoa,
A guerra, a caça ao leão,
O sono dormido à toa
Sob as tendas d'amplidão!
Hoje... o porão negro, fundo,
Infecto, apertado, imundo,
Tendo a peste por jaguar...
E o sono sempre cortado
Pelo arranco de um finado,
E o baque de um corpo ao mar...
Ontem plena liberdade,
A vontade por poder...
Hoje... cúm'lo de maldade,
Nem são livres p'ra morrer. .
Prende-os a mesma corrente
— Férrea, lúgubre serpente —
Nas roscas da escravidão.
E assim zombando da morte,
Dança a lúgubre coorte
Ao som do açoute... Irrisão!...
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus,
Se eu deliro... ou se é verdade
Tanto horror perante os céus?!...
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
Do teu manto este borrão?
Astros! noites! tempestades! Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!...
Mas não se comemora porque quase ninguém se lembra desta e de outras datas cívicas.
Não se comemora porque grande parte do povo ainda se sente escravo: acorda muito cedo, dorme muito tarde, trabalha seis ou sete dias por semana, utiliza meios de transporte que aviltam aqueles que deles necessitam, alimenta-se mal e vê seu governo desperdiçando seu dinheiro de tributos.
Não se comemora porque aqueles que comandam a mentalidade da massa têm outras prioridades: Copa do Mundo, eleições, programas de rádio e televisão que jogam bobagens na cara dos ouvintes/telespectadores, etc.
Em honra da Liberdade, deixo aqui um excerto de O Navio Negreiro (Tragédia no Mar), do grande Castro Alves, que morreu moço, aos 24 anos, deixando essa e outras obras magistrais:
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!
Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!...
São os filhos do deserto,
Onde a terra esposa a luz.
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus...
São os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão.
Ontem simples, fortes, bravos.
Hoje míseros escravos,
Sem luz, sem ar, sem razão...
São mulheres desgraçadas,
Como Agar o foi também.
Que sedentas, alquebradas,
De longe... bem longe vêm...
Trazendo com tíbios passos,
Filhos e algemas nos braços,
N'alma — lágrimas e fel...
Como Agar sofrendo tanto,
Que nem o leite de pranto
Têm que dar para Ismael.
Lá nas areias infindas,
Das palmeiras no país,
Nasceram crianças lindas,
Viveram moças gentis...
Passa um dia a caravana,
Quando a virgem na cabana
Cisma da noite nos véus ...
... Adeus, ó choça do monte,
... Adeus, palmeiras da fonte!...
... Adeus, amores... adeus!...
Depois, o areal extenso...
Depois, o oceano de pó.
Depois no horizonte imenso
Desertos... desertos só...
E a fome, o cansaço, a sede...
Ai! quanto infeliz que cede,
E cai p'ra não mais s'erguer!...
Vaga um lugar na cadeia,
Mas o chacal sobre a areia
Acha um corpo que roer.
Ontem a Serra Leoa,
A guerra, a caça ao leão,
O sono dormido à toa
Sob as tendas d'amplidão!
Hoje... o porão negro, fundo,
Infecto, apertado, imundo,
Tendo a peste por jaguar...
E o sono sempre cortado
Pelo arranco de um finado,
E o baque de um corpo ao mar...
Ontem plena liberdade,
A vontade por poder...
Hoje... cúm'lo de maldade,
Nem são livres p'ra morrer. .
Prende-os a mesma corrente
— Férrea, lúgubre serpente —
Nas roscas da escravidão.
E assim zombando da morte,
Dança a lúgubre coorte
Ao som do açoute... Irrisão!...
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus,
Se eu deliro... ou se é verdade
Tanto horror perante os céus?!...
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
Do teu manto este borrão?
Astros! noites! tempestades! Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!...
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